sem pensar

tá, tá dificílimo
o Quasímodo
ta doente
sem dente
e corcunda
sua bunda
arruma
uma tumba
para descansar
precisa estar
em qualquer lugar
sem pensar

maizena

cansado do estilhaço
do chapéu do palhaço
que como o Homem de Aço
causa nas crianças um leve desembaraço

de palhaçadas
e gargalhadas
vive o Coringa
e sua seringa

feias formas saindo
ele vive como existindo
segundo a segundo
a ponto de virar moribundo

desejo a ele que se entretenha
com outra guloseima
algo que não queima
como mingau de maizena

globalização

o chiclete que está na minha mão
veio de outro rincão
talvez da China
como aquela serpentina

hoje vejo o sofrimento alheio
de quem nem sabe porque ao mundo veio
falam de que a globalização tudo dominou
mas não sei do sentimento de quem doou

a vida inteira numa vila no oriente
e hoje tem caído seus dentes
e nem sabe o que é Rihanna
mas muito o seu neto ama

os produtos são globalizados
e os corpos massacrados
vai saber se ao seu lado
não está um canudinho estragado

que veio de um outro lado do mundo
usado por um humano
que em poucos segundos
pensou em ti enquanto

bebia seu líquido efervescente
e assim, tão de repente
esqueceu do recente acidente
e de sua temível dor de dente

alto

acho que cai
nem bem direito percebi
já subi ás alturas
de um lugar que teria paúra

o mais alto me agrada
é no fim da escalada
que se sente o suor da caminhada
e a pupila dilatada

no alto reside
o fim do gride
você quer que eu te explique?
espero que não duvide

o alto é o patamar
no qual devemos estar
seja você quem for
é isso que vim propôr

cachaça

me perdi em seu olhar
e agora, como hei de ficar
onde vou te achar
meia chance em um milhar

mas estou a aproveitar
o que o destino tem a me dar
espero presentes bem graúdos
mas sigo reto, não me iludo

menina dos olhos verdes
para dormir eu viro para a parede
que é para deixar de ter sede
e vontade de contigo dormir numa rede

só a sorte
te transformará na consorte
mais cheia de graça!
se apareceres comemorarei com cachaça

meu bem!

sei por onde ir
não me faça desistir
se for partir
vê bem por onde ir

o caminhada é longa
vai te deixar tonta
não é nenhuma bronca
mas esse teu jeito me amedronta

porque tem que ser tão difícil
te mostro um caminho aprazível
mas você insiste em devaneiar
sobre bobeiras ao luar

bom, quando você quiser
vou te tornar mulher
e te dizer outras coisas também
meu amor, meu bem!

dengo

caio de uma altura
que me dá paúra
sangue quente sobe á cabeça
não quero que você se esqueça

que sou seu até de baixo d'água
e a minha tonteira se apaga
quando volto do céu
intacto, caio num bordel

de lá saio de fininho
prefiro você bem de mansinho
minha menina amorosa
bonita, pequena e dengosa

sorte tive em te encontrar
e sei que você sempre vai estar
com aquele olhar
de quem quer me matar de namorar